Uma parada na estação do meio dia
Entro envolvida entre temores e desejos, passo despercebida
pelos detalhes, não consigo me lembrar dos detalhes, dos objetos, de nada,
sento naquele sofá, que de todo o resto é o que mais me soa familiar, como se
tivesse encontrado finalmente um lugar seguro em meio à avalanche de
sentimentos que é a decisão de estar aqui com você e espero, porque de tantas
coisas a serem ditas, reveladas, não consigo me expressar. Uma timidez me consome e só a espera de
alguma atitude sua me consola. É quando você, talvez se compadecendo do meu
desespero, entre algumas poucas frases formais e sem sentido, não consigo
realmente me lembrar, encosta seu rosto no meu e então esqueço mesmo o que
tinha pra dizer. Minha mente vira calda de chocolate, meu corpo se desmancha.
Entendo enfim porque estou ali. Sinto
suave cada desenho que sua boca faz no meu corpo, suas mãos tocam partes tão
íntimas, tão minhas, que por um segundo me sinto envergonhada, e só entre
elogios bobos é que volto a me concentrar nos devaneios daquela hora. Minhas
mãos também dançam, percorrem seus braços gravados de histórias que eu não
conheço, mas que me atraem pra lugares que eu nunca fui. Meus olhos se fecham
num pedido de liberdade e êxtase e quando abro te vejo intenso e fugaz, meio
atônita procuro entender, mas já não é preciso, porque mais uma vez sua boca
sabe exatamente onde encontrar meu prazer. Sucumbo-me e me refaço. E então num
dos momentos mais singelos que já tivemos repouso, sacramentando aquele tempo,
desfazendo qualquer resquício de culpa. Como que pra felicitar a chegada da
primavera encontro flores no meio dos diálogos de pouca intimidade e despedida.
A urgência da rotina me chama de volta e eu corro sabendo que momentos como
esses são pra serem saboreados, não explicados, nem definidos. Repetidos, quem
sabe.
Luiza Véras
Perfeito!!!!!!
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