Sentimentos Literários - Admirável Mundo Novo



Até quando a arte, a espiritualidade, a filosofia, a poesia... até quando as demonstrações puramente humanas resistirão a esta enxurrada de progresso que vivemos todos os dias? Admirável Mundo Novo, chega como conclusão de uma realização pessoal. Há um ano, tento fazer esta leitura, mas parecia impossível ser transportada para uma ficção tão irreal. Minha imaginação, demorava a se conectar com toda aquela frieza em que o autor fez questão de nos transmitir.
Depois de 4 tentativas frustradas, finalmente concluo a leitura! Depois de um certo ponto, foi possível me colocar em cada situação, mesmo não tendo absolutamente nenhuma referência real para me prender.
O livro nos transporta para um tempo onde a felicidade é banalizada e conceitos como família, religião, arte, amor e fidelidade são condenados e abolidos.
Ler Shakespeare é considerado um ato de revolução, porque nada pode fomentar o desejo por humanidade em um modelo perfeito de organização social.
Os seres humanos, são reproduzidos artificialmente e seus anseios são combatidos com pílulas.
Chega a ser chocante perceber tantas semelhanças com o caminho que estamos tomando, em uma história de distopia escrita em 1930. O autor, conseguiu ter sensibilidade para imaginar o quanto ficaríamos confusos no decorrer de nossa evolução, e o preço pelo progresso poderá ser muito alto e fatal para nossa verdadeira essência.

"Cremos nas coisas porque somos condicionados a crer nelas. A arte de encontrar más razões para aquilo em que se crê por outras más razões, isto é filosofia." (p.359)


Enfim, considero uma leitura indispensável para quem deseja avaliar-se e reconhecer suas fraqueza, para aqueles que acreditam que nos basta viver de presente e sermos alimentados pelo futuro. Porque em Admirável Mundo Novo, percebemos que nossa evolução precisa ter olhos para o passado e nossas éticas podem ser sutilmente manipuladas até que não saberemos mais quem realmente somos e corremos o risco de acordarmos de um delírio de SOMA em um mundo completamente novo com um tipo de civilização tóxica para nossas características tão humanas!

"Onde houver guerras, onde houver juramentos de fidelidade múltiplos e divididos, onde houver tentações às quais é necessário resistir, objetos de amor pelos quais é preciso lutar ou que é preciso defender, aí, manifestamente, a nobreza e o heroísmo têm um sentido. Mas hoje já não há guerra. Toma-se o maior cuidado para evitar amar exageradamente seja quem for. Não há nada que se assemelhe a um juramento de fidelidade múltipla, todos são condicionados de tal modo, que ninguém pode deixar de fazer o que tem a fazer. E se aquilo que há a fazer é, no conjunto, tão agradável, deixa-se uma tão grande margem a um tão grande número de impulsos naturais que não há verdadeiramente tentações a que seja necessário resistir. E se alguma vez, por qualquer infelicidade, acontece, por esta ou aquela razão, algo de desagradável, pois bem, há sempre o soma para permitir uma fuga da realidade, há sempre o soma para acalmar a cólera, para fazer a reconciliação com os inimigos, para dar paciência e para ajudar a suportar os dissabores." (p.362)


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