Deixa o povo se divertir
A notícia é velha, mas minha opinião é fresca,
afinal estamos no período do carnaval.
Há algum tempo, um jovem humorista deu a seguinte
declaração:
“Queria ser presidente por um dia. Faria uma lei que anulasse o
carnaval em prol da nação. Argumentos lógicos não me faltam: Diminuição de
acidentes; menor índice de HIV positivo; melhorar imagem do país no exterior; cortar semana
ociosa para que aumentemos nossa renda; valorizar a imagem da mulher
brasileira; investir os 2 bilhões por ano do carnaval em
educação; diminuir consumo de drogas nesse período….
Acho que não teria o apoio popular pra isso. Já tivemos
presidentes que afundaram a educação, a habitação, a reforma agrária, a
inflação, a renda familiar, os empregos, e até mesmo presidente que roubou
nossa poupança. Ninguém reclamou. Porém se eu acabasse com o carnaval
certamente me matariam. Mesmo sabendo o risco que corro, aceitaria essa missão
suicida, afinal, é melhor morrer no país do carnaval do que viver no carnaval
desse país.”
Uma coisa é certa: ele reconheu que não teria apoio popular pra
isso. E não teria mesmo. Uma coisa é reconhecer que nosso país está cheio de
problemas, de muitos problemas. Tudo o que ele disse tem algum fundamento. E
olha que na época da publicação do seu texto ainda nem sabíamos da sacanagem na
Petrobras. Mas acabar com o Carnaval não resolveria nossos problemas. O buraco
é mais embaixo, garoto!
Vamos por partes. O que é o carnaval para nós, brasileiros? É
nossa identidade cultural. Acabar com o nosso carnaval seria o mesmo que
proibir os argentinos de dançarem tango; de os espanhóis acabarem com o
festival de São Firmino na cidade de Pamplona – que, particularmente, acho uma
estupidez aquele monte de homens correndo na frente de touros insandecidos, mas
é a cultura deles; acabarem com as comemorações do 04 de julho nos Estados
Unidos, o dia da Independência, e também do Hallowen e do dia de Ação de
Graças, que os americanos levam muito a sério; acabarem com as diversas
festividades do Japão, principalmente o Festival de Takayma, um dos três mais
bonitos do país, que acontece duas vezes por ano, na primavera e no outono;
acabarem com o Oktoberfest em Munique, na Alemanha, ou com o maior festival do
vinho, realizado em Hannover, também na Alemanha; acabarem na França com todos
os feriados de santos, carnavais e
desfiles em fantasias ao longo de todo ano para celebrar suas tradições e seu
folclore – é, porque a França também tem seu carnaval, meio sem graça, mas tem.
Sem contar com Veneza, na Itália: quem não conhece ou já ouviu falar no
tradicional baile de máscaras? Cada país, em qualquer continente, celebra suas
tradições. Por que nós, não haveríamos de celebrar?
É público e notório que o Brasil, ou melhor, que os governantes
brasileiros não fazem a lição de casa. São canalhas, corruptos, safados e todos
os adjetivos negativos que possam surgir aqui em nossa mente agora. Mas o povo,
que já não tem tanta coisa de que precisa, ainda teria de ficar sem carnaval?
Aí seria motivo de suicídio coletivo.
Hoje, domingo de carnaval, comprei os jornais, como faço há
muitos anos. Sabem por quê? Para saber tudo sobre as Escolas de Samba do meu
Rio de Janeiro. Ainda não foi desta vez que consegui me programar para assistir
ao desfile ao vivo e a cores, mas por fora não vou ficar. Ah, não mesmo. Logo
mais, quando elas entrarem no Sambódromo, já terei uma pré-avaliação do que
elas irão apresentar. E, metida a entendida como sou, já poderei saber quais
são as favoritas ao título. É claro que não vou dizer, porque vai que eu erre.
Vou ficar com cara de babaca.
Mas por que toquei neste ponto? É que, passeando pelas páginas
de cada uma das Escolas, pude constatar (mais uma vez): a indústria do carnaval
é uma das que mais geram emprego, renda e divisas para o país, porque atrai
turistas de todos os cantos do mundo. Com ela ganham a arte, o comércio, a
hotelaria, o ramo de serviços etc. Fico, a cada ano, surpresa com o número de
componentes das Agremiações: em média
são de 3.500 a 4.000. E isto apenas no Grupo Especial, porque há as Escolas do
Grupo A e do B, sem contar os inúmeros blocos que lotam as ruas do Centro, da
Zona Sul, da Zona Norte e de todas as Zonas (literalmente) do nosso Rio. Só
o“Cordão da Bola Preta”, bloco tradicional há quase um século, por exemplo,
atraiu mais de 1.000.000 de pessoas, só neste sábado (Contaram o número de
zeros?) E os outros blocos, quantas pessoas atraíram? Nem tente fazer a conta:
é muita, muita gente.
Lá em São Paulo, eles tomaram gosto pela coisa e já fazem carnaval
igual aos cariocas. As Escolas estavam lindas, impecáveis, maravilhosas.
Parabéns aos “mano e às mina”, meu!
Gente, e o que é o carnaval do Nordeste? Recife e o seu
tradicional “Galo da Madrugada (2.000.000 de foliões no sábado), os trios na
Bahia, aquela gente toda, pulando, pulando, pulando. Quisera eu ainda ter esta
energia! É muita alegria, irreverência, descontração! Bendito e abençoado seja
o povo brasileiro! Só um povo com tamanha capacidade e dignidade, consegue
transformar dificuldades em arte, em criatividade, em alegria.
E, voltando ao início do texto, nosso “gentil” colega disse que,
cortando o carnaval diminuiria os casos de acidentes, de contaminação por HIV e
de consumo de drogas, que valorizaria a imagem da mulher brasileira e que
aumentaria a nossa renda. Bem, na minha modesta opinião, acho o seguinte:
acidentes acontecem o ano inteiro e é por falta de consciência (e de educação)
dos motoristas; as pessoas se contaminam (também o ano inteiro) com o vírus da
AIDS e por outros agentes causadores de DST’s porque ignoram as orientações
para se ter um sexo seguro (uso de preservativos, principalmente) e saem
fazendo sexo a torto e a direito a todo momento e com qualquer um; as pessoas
usam drogas também o ano inteiro (prestem atenção nas apreensões que a polícia
faz de janeiro a dezembro, só nas apeensões. E o que os caras da lei não
conseguem pegar, porque os caras do tráfico foram mais espertos? É muita gente
cheirando pó, fumando maconha e pedra de crack, ingerindo comprimidos dos mais
diversos tipos, enfim, é tanta gente querendo fugir da realidade, ou querendo
encontrá-la, não sei, é muito doidão para o meu gosto e compreensão) e se acham
fodonas, mas eu acho que são fodidas, mas , cada um faz de sua vida o que bem
entender, não é?
Quanto à valorização da mulher brasileira, acredito que é uma
questão pessoal de cada uma. Vejo mulheres que querem mais é mostrar o corpo,
fazer caras e bocas, posar nua, fazer escândalo, frequentar festinhas
suspeitas, deixar que gravem suas relações sexuais ( e aí ficam indignadas
quando cai na rede), engravidar de celebridades ( e às vezes até morrem por
isso – vide Elisa Samudio), se enfiar sob o edredom para fazer sexo com um país
inteiro assistindo e por aí vai. Aí, o carinha está preocupado com a imagem da
mulher brasileira que, durante 80 minutos de um desfile de carnaval, expõe o
corpo numa fantasia que só tapa o sexo. Ah, me poupe!
Se quer saber: sou capaz de jurar que este cara já saiu de
piranha em algum carnaval na sua juventude. Quase todos os homens que conheço
já saíram. E fizeram bem. Carnaval é para se divertir, não pra ficar
resmungando, reclamando, xingando o governo porque a inflação voltou, porque a
gasolina aumentou, porque os reservatórios estão com pouca água e que a energia
elétrica está comprometida.
Será que dá pra gente pensar sobre isso, a partir de
quarta-feira?
Ah, e estejam à vontade para me chamarem de alienada. (Risos)
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