Hilda Hilst
Hilda Hilst
"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."
Divido com
vocês, leitores e amigos, um pouco da poesia de Hilda Hilst.
Essa
poetisa também foi ficcionista, cronista e dramaturga brasileira. É considerada
pela crítica como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX.
Ela nasceu
em Jaú, 21 de abril de 1930 e faleceu em Campinas, 4 de fevereiro de 2004.
Já cedo
passou pela separação de seus pais, indo morar com a mãe, em Santos. O pai
sofria de esquizofrenia e passou por várias vezes pelo sanatório.
Hilda
estudou no colégio interno Santa Marcelina e depois na Escola Mackenzie, nesta
época, ela morava com uma governanta em um apartamento localizado na Alameda
Santos. Ao completar 16 anos ela finalmente foi visitar o pai, recolhido em sua
fazenda, mas ao fim de três dias ela não mais suportou as crises paternas.
Por
influência da mãe, decidiu cursar Direito. Nesse período, passou a levar uma
vida boêmia, que se prolongaria até por volta de 1963. Moça de rara beleza,
Hilda comportava-se de maneira muito avançada, escandalizando a alta sociedade
paulista. Despertou paixões em empresários, poetas (inclusive Vinicius de
Moraes) e diversos artistas.
Em 1957 ocorre um fato curioso, a escritora parte para a Europa e vivencia um breve namoro com o ator Dean Martin. Ela segue se dedicando cada vez mais à literatura, inspirando seu primo José Antônio de Almeida Prado a compor a Canção para soprano e piano, entre outras obras, e influenciando também os compositores Adoniran Barbosa e Gilberto Mendes. No ano de 1966 ela toma uma decisão crucial em sua vida e na sua carreira literária, transferindo-se para a Casa do Sol, chácara localizada perto de Campinas, em busca da solidão para melhor desenvolver seu processo criativo. Ali ela reuniu, ao longo de muitos anos, escritores e artistas.
Em 1968 ela se casa com o escultor Dante Casarini, passando a residir com ele no mesmo refúgio em que se encerrara para produzir sua obra, tão irreverente quanto o comportamento da escritora, muito moderno para sua época, abordando temas como o homossexualismo e o lesbianismo. Ela escreveu, entre outros, Presságio, Balada de Alzira Balada do festival, Roteiro do Silêncio, Trovas de muito amor para um amado senhor, Ode Fragmentária ( Poesia); Fluxo – Floema, Qadós, Ficções (Ficção); A Possessa, O rato no muro, O visitante (Teatro).
Pois é, a moça não é fraca não, além de polêmica. O que eu trouxe para vocês foi uma biografia bem resumida, mas vale a pena conhecer mais sobre Hilda, quem tiver curiosidade, visite os sites sugeridos ou mesmo numa busca descompromissada, você vai encontrar muitas informações e sites oficiais da escritora.
Degustem os poemas de Hilda Hilst.........
O escritor e seus múltiplos vem vos dizer adeus.
Tentou na palavra o extremo-tudo
E esboçou-se santo, prostituto e corifeu. A infância
Foi velada: obscura na teia da poesia e da loucura.
A juventude apenas uma lauda de lascívia, de frêmito
Tempo-Nada na página.
Depois, transgressor metalescente de percursos
Colou-se à compaixão, abismos e à sua própria sombra.
Poupem-no o desperdício de explicar o ato de brincar.
A dádiva de antes (a obra) excedeu-se no luxo.
O Caderno Rosa é apenas resíduo de um "Potlatch".
E hoje, repetindo Bataille:
"Sinto-me livre para fracassar".
Hilda Hilst
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer
(do livro “Do desejo”)
POEMAS AOS HOMENS DO
NOSSO TEMPO
I
homenagem a Alexander Solzhenitsyn
Senhoras e senhores,
olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.
A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser engulido
Por vossas gargantas mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos engulidos
Deixarão suas heranças, suas memórias
A IDEIA, meus senhores
E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas botas.
Cantando amor, os poetas na
noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra
Do que na mão que esmaga.
A IDEIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos homens
é mais vasto
Do que a voracidade que nos move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco
Aos vossos olhos possa
parecer.
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