No meio do caminho tinha uma pressa.

No meio do caminho tinha uma pressa.
Tinha uma pressa no meio do caminho.
A pressa era tanta que tinha que não via
Quem vinha ou quem ia ou quem ficava.
Era muita pressa.
Não chegar atrasado, não perder o ônibus,
Não esquecer as tarefas, corrigir, fazer,
Planejar, pensar, reunião, projeto,
Atrair, replanejar, fazer diferente,
Ser inovador, criativo, bem-humorado,
Dar conta, entregar no prazo,
nem um minuto atrasado, nem um minuto atrasado, nem um minuto atrasado,
preocupar-se, preocupar-se, preocupar-se.
Pressa. Pressa. Pressa!

Nunca se esquecerá do tropeço na pressa.
Não viu quem veio, quem foi, quem ficou.
A pressa tornou-se mais que pedra: era
Um monstro de asas que lhe perseguia
E ainda havia a culpa por não ter atrasado
Um dia, por não perdido o ônibus um dia,
Por não haver reparado...
Que a pressa levou sua vida e já não mais havia
Tempo para não ter tanta pressa.


 A pedra de hoje que vos apresento é a pressa. Se a pedra nos faz tropeçar e ver a vida sob ângulo diferente, a pressa não nos deixa ver nada. Talvez, uma das chatices da tal "vida moderna" seja ela. Inimiga quase imaginária, que nos torna escravos dos relógios e das horas; monstra! Não sei bem quando foi que o tempo virou vento e começou a fazer o mundo girar mais rápido, sei que tem horas que nada basta, tudo enche, o mais importante vai virando promessa, o desespero vai surrando a consciência e dá vontade de catar tudo e jogar pro alto! - não, e não voltar pra catar; deixar pra lá, no meio daquele caminho que não era o verdadeiro caminho a ser seguido. E assim, caros leitores e amigos, termino a segunda-feira poética, mesmo que em base de protesto: chega de pressa! Quero mais poesia, quero que as segundas, as terças, as quartas, todos os dias sejam mais poéticos e poéticas!

Lembrete
Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.
                                           Carlos Drummond de Andrade  


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