Desafio do Livro Indicado - Dia 2 - Por Fernanda Giesta (A Terra Inteira e o Céu Infinito)



A obra que eu fui desafiada a resenhar traz a história de Ruth, uma escritora nova-iorquina que mora em uma pequena ilha no Canadá com seu marido Oliver e o gato Pesto, e de Naoko, uma adolescente de 16 anos que, embora seja japonesa, passou praticamente toda a sua vida nos Estados Unidos. Quando Naoko é forçada a retornar ao Japão com sua família, graças ao fato de seu pai ter perdido o emprego, sua vida desaba, pois seu pai torna-se depressivo e suicida e ela passa a sofrer um bulliyng monumental. Neste interim, Nao conhece sua bisavó Jiko, que é uma senhora de 104 anos muito sábia e lúcida, e que teve uma vida extremamente interessante, e decide escrever em um a história dela em um diário. Este diário, por sua vez, aparece em uma praia próxima à casa de Ruth, dentro de uma lancheira, juntamente com outros objetos curiosos, dando início à narrativa, que alterna entre o texto do diário de Nao e a realidade de Ruth, que, além de buscar descobrir se o texto é legítimo e, em caso positivo, o destino de Nao, também sofre com seus próprios conflitos pessoais.
Antes de mais nada, sinto a necessidade de fazer um mea culpa: eu creio não ser a pessoa mais indicada para produzir uma análise dessa obra – o que é lamentável, uma vez que este livro me foi indicado por ser muito querido pela Pit.
O que acontece é que eu sou totalmente alheia à vibe do livro, que foi escrito por uma sacerdotisa budista e traz diversas reflexões existenciais e espirituais, que devem ser extremamente interessantes para alguém que faça a mínima ideia do que está acontecendo ali. Mas o fato é que eu não possuo nenhum resquício de espiritualidade ou conhecimento da cultura budista, e sinceramente nenhum desejo em desenvolver esses departamentos da minha pessoa. Tampouco possuo conhecimento ou interesse nas divagações de física quântica desenvolvidas no final do livro, graças a um evento ocorrido na história. Portanto, toda a minha análise girará em torno das personagens e da história em si, o que acabará tornando minha resenha limitada ante todo o conteúdo da obra, mas é o que posso oferecer sem perder a franqueza. Esclarecido isso, passemos à resenha em si.
O livro é absurdamente bem escrito, e é notável o talento de Ruth Ozeki como romancista. A narrativa é agradável e fluida, e o quê de poesia que a autora insere no texto faz esta ser uma obra que nos dá vontade de ler, independentemente do conteúdo, só pelo fato de a forma ser sensacional e agradável. A história, por sua vez, não fica nada atrás. Foi o primeiro romance de auto ficção que eu li, e adorei tanto a proposta quanto a execução dela, assim como achei a ideia de fazer um paralelo do diário com o momento no presente da segunda personagem principal/autora simplesmente sensacional.
Por fim, acho que posso dizer que, o que mais gostei na obra, sem dúvida, foi a evolução e a elaboração de Nao e de Haruki nº 1, seu pai, como personagens.
O que mais me atrai em histórias são, invariavelmente, os personagens, seja por afeição a eles, ou só por serem bem construídos.
No caso, Haruki nº 1, que a princípio era visto pelo leitor e pela própria filha como um homem fraco e derrotado, se mostra, ao final, uma pessoa multifacetada, com fortes valores e extremamente coerente e bem construído. É este tipo de revelação e trabalho de romancistas que me fazem querer poder abraçar o autor!
 E Nao, bem... ela é uma obra prima! Achei simplesmente sublime como a autora conseguiu escrever o diário de uma garota de 16 anos que estava passando por um verdadeiro inferno de forma absolutamente incrível, e simultaneamente sem um pingo de pieguice. Não bastasse esta demonstração de maestria, a mocinha ainda é apaixonante, entrando no quesito afeto, que eu mencionei anteriormente. Aliás, aproveitando a deixa da verossimilhança: vou confessar que fiquei frustrada quando descobri que o livro era uma auto ficção, pois quando me toquei que a Ruth da história era a Ruth Ozeki, meu coração queria muito acreditar que ela tinha encontrado o diário de uma menina chamada Naoko na praia e escrito toda a obra encima disso (o que só é mais uma enorme prova do quanto essa mulher manda bem!).
As narrativas do bullying – que em japonês se chama ijime - sofrido por Nao também são de arrepiar os cabelos da nuca. Eu fiquei curiosa para saber o quanto o ijime é institucionalizado e intenso nas escolas do Japão, e o quanto das crueldades descritas foram fruto apenas da criatividade da autora, porque sinceramente fiquei horrorizada com  a premeditação, a frieza, e o nível de maldade de tudo que foi descrito. Fiz uma pesquisa rápida no google, e descobri que, de fato, as coisas parecem funcionar assim por lá – inclusive no que diz respeito aos professores - e esta perspectiva me deixou mais horrorizada ainda.
Quanto a Ruth, não cheguei a acha-la uma personagem fraca, mas acho que o contraste entre as duas foi a única coisa que eu realmente não gostei muito do livro, pois a personagem/autora não é cativante como Nao, e em alguns momentos, é simplesmente angustiante ter que passar por um capítulo de Ruth, quando o leitor só quer saber mais sobre a história de Nao.
Talvez nem convenha dizer isso como uma crítica ao livro, mas como uma questão pura e simplesmente gosto, porque a parte da história passada na realidade da Ruth não foi para mim nem de longe tão interessante quanto a de Nao, e eu não pude me identificar tanto com as questões levantadas por Ruth. Ruth não me pareceu nem de longe tão adorável quanto Nao, e para falar a verdade alguns dos diálogos dela com Oliver, e principalmente com outras pessoas da ilha, me pareceram arrastados e desnecessário para o enredo.
De forma geral, adorei o livro, e creio para qualquer um que curta um bom trabalho de ficção, ele vai ser prazeroso. Porém, para quem se interessa pela cultura japonesa, é leitura absolutamente obrigatória.


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