Nascer é Assim também - Fabiana Nogueira Neves



                Desde quando vi esse livro me chamou muito a atenção: um livro “infantil” sobre adoção. Uma história simples que encanta adultos também.

                O livro é um misto de lindo, leve e profundo ao mesmo tempo. Carregado de emoções maternais, mostra a espera de um filho (na verdade, filhos!). Aqui, a autora nos mostra um outro tipo de gravidez. Para quem acha que pais adotivos não passam por uma gestação, aqui é fato que existe sim, uma espera, recheada de emoções, com tantas incertezas, dúvidas, alegrias e ansiedades.

                Nada melhor como a semana do dia das mães para falar sobre esse livro tão especial, e dessa forma, parabenizar as mães. Mãe é mãe. Mães jovens, mães maduras, mães que geram bebê na barriga, mães que geram no coração, mães que geram na alma. Pessoas que se encontram e uma precisa tanto da outra. Se amam e se cuidam. Sem dúvida, mães e filhos possuem uma linda história de amor. E como qualquer amor e história, cada um tem seu caminho.

                Confesso que ao fazer a entrevista, me emocionei tanto que em alguns momentos meus olhos derreteram. Meu coração passou por arritmias. E em outros momentos cheguei a ter vontade gerar um filho através da adoção.

                Para melhor compreensão do livro, entrevistamos a autora, Fabiana Nogueira Neves.

1 - Como nasceu o livro "Nascer é assim também"?
Fabiana: O livro nasceu da vontade de contar a história da espera e do nascimento dos meus filhos para eles. Toda mãe faz isso ao mostrar as fotos da gravidez, dos preparativos, do enxoval. Eu vivi uma espera diferente, também cheia de emoções, que gostaria que eles tivessem como ver e rever sempre que desejassem. E acredito que o livro é o artefato, em si, ideal para isso. A criança, naturalmente curiosa, manipula o livro de acordo com seu interesse e prende-se às figuras de maneiras variadas a cada novo contato com a obra. Isso dá aos pais a chance de contar a mesma história várias vezes, diversificando a ênfase sobre este ou aquele aspecto da narrativa de acordo como momento. Só o livro dá essa oportunidade: você, sua criança e a história de vocês em comunhão e intimidade.

Bem, daí fizemos um primeiro livro contando sobre a espera do meu filho mais velho. Com recursos próprios e a ajuda de amigos, mandamos pra gráfica quando esse primeiro filho ia completar um ano e distribuímos para os amigos como lembrança no seu aniversário. Dois anos depois, quando os gêmeos chegaram, fizemos o mesmo. Nas duas ocasiões, os exemplares se esgotaram. Mas os pedidos do tipo "você ainda tem um livro dos meninos?" continuaram chegando.
Em Juiz de Fora, onde moro, há uma lei de incentivo à cultura chamada Lei Murilo Mendes. Ela destina recursos para produções culturais que promovam informação e cidadania à comunidade. No ano passado, fizemos uma junção das duas histórias, conseguimos recursos através da Lei e daí surgiu o livro "Nascer é assim também", hoje disponível para venda pela internet e em algumas livrarias.


2 - Por que um livro sobre esse tema, porém infantil?
Há uma vasta literatura sobre adoção voltada para os que pretendem ou já adotaram. Mas não havia muitos títulos específicos para crianças. Alguns que encontramos estavam esgotados, outros não tratavam do tema da forma como gostaríamos. Por isso decidi fazer um livro para crianças, primeiramente para as minhas. Nós queremos que nossos filhos sintam muita alegria de terem nascido da forma como nasceram e vejam, na própria família, o exemplo de como é o amor o laço que mantém pais e filhos unidos. O vínculo biológico é absolutamente secundário. Naturalizar a adoção como uma maneira de nascer para alguém, portanto, também foi o objetivo do livro. Acreditamos que assim, tendo contato com essa história desde pequenos, eles possam crescer conscientes da beleza que cercou a chegada de cada um em nosso lar.

3 - Você pretende lançar o livro em outros idiomas?
Ainda não pensei nisso. Mesmo porque o sistema de adoção no Brasil é diferente de outros países. Mas acima de tudo acredito que a gente deve escrever sobre aquilo que é verdade pra gente. No livro está a história da minha família, a nossa verdade de família que, por alguma razão, é também a verdade de muitas outras. Credito a isso o fato de estarmos entregando exemplares do livro para famílias em vários estados do Brasil e recebendo das pessoas que compraram mensagens de muito carinho e respeito. O livro, que nasceu para me ajudar a contar a história do meu filho pra ele, agora serve para outras famílias contarem para seus filhos suas próprias histórias. Isso é a razão da alegria que sentimos a cada exemplar entregue.



4 - O livro tem também por objetivo incentivar a adoção?
Não foi com esse objetivo que escrevemos. O livro trata, acima de tudo, do amor. Abordamos a adoção, é claro, porque foi assim que um grande amor nasceu nas nossas vidas. Nossos três filhos são amores que se materializaram em nós graças à adoção. Mas o que a gente quer mostrar mesmo com essa história é que não importa como se nasce, importa é como se constrói uma família. No dia a dia, nas brincadeiras, na convivência, no compartilhar emoções é que se edifica um lar. E o que mantém tudo junto é o amor que se aprende a cada minuto, a cada olhar, no colinho de manhã e no dengo da noite. Na mão do pequeno que procura a sua em busca de segurança.



5 - Foi difícil começar e chegar ao final feliz da sua história? Conte-nos como nasceu a mãe Fabiana, com todos os trâmites legais.

Não diria que foi difícil, diria que foi uma caminhada árdua, um aprendizado. Sempre quis ser mãe e, quando achamos que havia chegado a hora, fomos em busca de um filho pelas vias biológicas. Mas não aconteceu e só Deus poderá explicar o porquê. Demorei um tempo para digerir essa impossibilidade, era doído.A gente queria um filho, a gente batalhava por isso e não acontecia. Aí um dia deu um estalo na gente: o que não acontecia era a gravidez, mas isso não deveria ser impedimento para nós termos uma família. Nesse dia, então, descobri que eu queria mais um filho do que uma barriga e isso foi extremamente libertador. Nossa! Foi um alívio! E a adoção foi o caminho naturalmente pensado para seguirmos nessa busca.

Decididos, buscamos informações com uma advogada conhecida e fomos até a Vara de Infância e Juventude da cidade. Importante ressaltar que não é necessário contratar um advogado para candidatar-se à adoção. Basta comparecer à Vara específica e providenciar os documentos que as assistentes sociais solicitarem. Daí é aguardar o contato para as entrevistas, o passo seguinte à entrega dos primeiros papéis. Essa fase pode demorar. No nosso caso, a primeira entrevista aconteceu uns sete meses depois de cumprirmos a primeira etapa. Concluídas as entrevistas, as assistentes sociais fazem um relatório que cumpre os trâmites internos até chegar à Juíza da Vara, que expedirá ou não o certificado de habilitação para adoção. Recebemos o nosso pouco mais de um ano depois que iniciamos o processo. Foi a partir dali que começamos efetivamente a esperar o nosso filho. Porque, na verdade, não existe UMA fila de adoção. O que existe é um extenso perfil que o candidato à adoção preenche quando propõe sua habilitação em que constam todos os dados da criança que a pessoa aceita receber como filho. Quanto mais amplo for o perfil, maiores as possibilidades de que seu filho venha para os seus braços mais cedo. No nosso caso, não fizemos restrição quanto a sexo, cor, raça ou ao fato da criança ter irmãos, por exemplo. O que acontece é que quando uma criança surge para adoção, as assistentes sociais colocam os seus dados no Cadastro Nacional da Adoção e o sistema faz o cruzamento destes com os dados dos perfis que os candidatos informaram. Dai surge a "fila". Conosco, foram 9 meses de espera entre a habilitação e o telefonema da assistente social dizendo que havia uma criança à nossa espera. Neste dia, exatos 3 dias antes do Natal, nasceu a mãe Fabiana, nasceu uma família, nasceu um amor infinito.


6 - Outro livro em mente? Pretende abordar o mesmo tema ou parecido?
Penso em escrever outro livro sobre a infância, sobre filhos, sobre maternidade. Em grande parte este é o meu universo hoje, apesar de ter outras ocupações. Preciso encontrar a minha verdade nesses temas para ser um livro realmente produtivo. Vamos ver o que virá por aí.




Fabiana Nogueira Neves é mulher, filha, irmã, professora, esposa e mãe de três meninos - um de 5 e outros dois de 3 anos. Formada em Comunicação Social, gosta de brincar de Lego com os filhos, de correr no parque sob o sol, de ver filme com o marido, de almoçar com a mãe e fazer passeios de mulher com as irmãs. Como professora, busca despertar os pupilos para a beleza do conhecimento e do seu potencial. Fez Mestrado em Comunicação e Identidades e continua buscando a sua própria entre tantos papéis que desempenha. Tem certeza que o seu preferido é o de mãe, por isso anda investindo bastante energia no aprimoramento dessa habilidade. Até escreveu um livro e fez um site! O endereço é www.nascereassimtambem.wix.com/queroler. Passa lá pra saber mais sobre essa figura!

Obrigada, Bia e muito sucesso pra você!

E desde já, um feliz dia das mães para todas as mamães!


Foto: Acervo pessoal da autora


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