A música, o frio e o meu trajeto num sábado de manhã (ou A Trilha Sonora dos meus Passos).
Quando saí hoje na portões da faculdade onde estudo, peguei
meus fones e resolvi mudar o caminho da volta para casa. Tinha baixado novas
músicas para minha playlist e queria ouvi-las todas, por isso a escolha de um
caminho mais longo. Imediatamente me dei conta de que lá nos 90 eu andava pelas
ruas da cidade com os pensamentos pipocando na minha cabeça e dividindo o espaço
dentro daquela confusão adolescente com as músicas que eu ouvia mentalmente. E
olha que lindo, hoje em dia a confusão continua, mas agora as músicas estão
todas numas caixinhas portáteis!!! Que maravilha, o meu cérebro, tão
sobrecarregado por todos esses anos de decisões e riffs intermináveis, agradece aliviado.
Continuando o trajeto diferente, pensei em como os
especialistas estão certos ao sugerirem que a gente mude a rotina de vez em
quando pra dar uma sacudida na comodidade do nosso corpo e mente. Vi coisas que
não reparava há tempos, apesar de estarem no mesmo lugar. Umas um pouco
diferentes e outras ainda do mesmo jeito. Tem coisas que são bem visíveis mesmo e ainda que eu não quisesse vê-las, elas estão ali, saltando aos meus
olhos e me acertando feito voadoras, como a obra perto da faculdade, que deixa
a cidade com um clima Napalm Death sem igual... Se não chove é poeira. Se chove
é lama. Um caos. Caos e lama, Da Lama ao Caos. Ah, Chico Science, quanta falta
você faz, profeta. De fato, a nação me parece, muitas e muitas vezes, ser
habitada somente por zumbis...
Obra: Operários
Autor: Tarsila do Amaral
Ano:1933
Técnica: Óleo sobre tela
Medidas: 150 cm X 205cm
Local: Acervo do Governo do Estado de São Paulo
Depois de uma rápida volta no centro da cidade, tomo o
caminho definitivo de retorno para casa e aí o burburinho do sábado de manhã
vai sumindo devagar, as bicicletas com propagandas vão indo mais e mais longe e
ficando menos barulhentas. O frio, mesmo não sendo tão intenso ainda,faz as coisas se
acalmarem um pouco. Adoro. Tanto o frio quanto a calma. No verão é diferente. No
verão, aquela simpática ruazinha fica mais colorida, mais barulhenta, mais
cheia de gente, os bares com as mesinhas abarrotadas, cachorrinhos e gatinhos
sendo doados, braços sendo vacinados, purrinhas sendo gritadas, rifas sendo
vendidas, celulares sendo teclados, chops gelados sendo virados. São milhões de
pequenos universos paralelos, girando, rápido e sem parar, uns ao lado dos
outros. Uma cidade insana, uma cidade tecno, uma cidade quase tóxica.
Assim, terminando a minha caminhada, vou chegando em casa e
repensando o que vi e o que ouvi enquanto via, sentindo as impressões do que
meus olhos registraram num sábado frio, onde algumas músicas parecem ter sido
feitas especialmente para as paisagens nubladas e cinzentas dessa cidade por enquanto meio cinza,
de gente colorida e feliz, que anda meio muda, meio cega e meio surda, mas que
mesmo assim, ainda consegue e sabe cantar. Meu coração, acelerado pelos passos
ora rápidos, ora calmos (porque eu ando conforme as músicas tocam), fica meio
cheio de uma alegria besta por causa do clima, do tempo, do final do semestre e
das provas, das músicas e das pessoas. Podia ficar meio vazio por causa de umas
coisas que nem ouso listar aqui, visto que são muitas. Mas hoje não. Hoje é dia
de preencher a vida com o que se gosta. Vou de livros e músicas. Vamos
também?
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