Certas canções são assim...
Quando o tema é música, quanto assunto a se falar! Música é leve, é alegria, é memória; como os cheiros: nos transportam a outros tempos, nos levam próximos a pessoas distantes, nos dá energia nos mais distintos momentos da nossa vida! Você já imaginou o mundo sem música? E se fosse pensar numa canção favorita, qual seria? Queridos amigos e leitores, é que CERTAS CANÇÕES SÃO ASSIM...
Certas canções são assim…
As batidas das caixas de som, explodem dentro do nosso
peito!
A cada novo verso, um novo recomeço!
Como se os anjos tivessem nos dado a chance de recomeçar,
reviver, reencontrar!
Certas canções são assim...
Elas colocam você novamente perto de mim!
Elas trazem sua figura e posso me lembrar do seu rosto,
E por vezes, eu as escuto por medo de me esquecer desses
traços!
Eu não quero esquecer, irmão!
Quero poder ver você todas as vezes em que eu fechar meus
olhos,
E me lembrar de como éramos amigos e do seu sorriso
desavergonhado!
Me lembrar de como cuidávamos um do outro e de como éramos
os cúmplices perfeitos para tudo de imperfeito que o mundo tem!
Certas canções são assim... elas estalam no peito,
Gritam na alma! Arrancam nossas certezas e retratam o que
se foi e não tem mais volta!
São canções que fazem laço com a saudade! E pouco são
negociáveis!
Gostam de ser cruéis e fazer as lágrimas fugirem dos olhos!
Traçam as rugas que estou criando, e que você não as terá!
Porque você foi eternizado, irmão! Será para sempre aquela
criança!
Vai brincar de pique na madrugada enquanto os adultos se
embriagam de tanto dançar!
Vai continuar sambando em cima do tapete de crochê,
embolando-o nos pés descalços e pretejados pela poeira da rua.
Você foi eternizado, irmão! Pelos pagodes antigos, pelos
dias de domingo e pelos sambas das madrugadas que os adultos regavam à cerveja,
enquanto dividíamos um refrigerante!
Certas canções são assim... elas tocam o coração dos que
ficam, fazendo a ponte perfeita com os que já se foram!!!
Toda
vez que meus ouvidos captam Girl, you'll be a woman soon, é imediata a
lembrança da imagem de Uma Thurman dançando essa canção no clássico Uma Thurman, de Quentin Tarantino. A música tem um arranjo incomum e aquela loira a
eternizou em minha memória. E ainda é como se me arremetesse a um passado leve
e um tanto distante, num tempo em que as ruas e as danceterias da cidade
pareciam a própria Uma, de tão atrativas que me eram nos finais de semana. Eu
não dançava, não, mas apreciava os ritmos, a poesia das melhores letras e a
invariável sedução dos acordes nos corpos femininos. Se Karma Chameleon,
de Culture Club, e Faith, de George Michael, por exemplo, tocassem
agora, me ajudariam a descrever os cenários onde as escutava mais naquela
época. Talvez me trouxessem até cheiros juntamente com essas imagens valiosas.
A música tem disso.
Há
mais nacionais em mim do que internacionais, evidentemente, já que sou um homem
que nunca deixou a sua aldeia. Ou melhor, certa vez a deixei, porém a saudade
me apertou tanto que voltei no final do terceiro mês. Uma dupla sertaneja
dominava as rádios e os corações das pessoas. Eram Leandro e Leonardo os nomes
deles. O seu sucesso marcante em minha vida: Pense em mim. Letra simples
que encantou casais apaixonados. Posso informar com precisão o tempo que passou
desde então: vinte e quatro anos, pois era um dos jovens cavalheiros
encantados.
O
encantamento ia cedendo espaço à razão. Estudei mais um pouco e, durante a
faculdade, eis que meu grande mestre, o professor de Línguas Portuguesa e
Inglesa, resgata-me Bob Dylan. A filosofia de suas canções era profunda, por
isso é clássico. Dylan não me leva para luaus ou para naturezas hippies.
Leva-me de volta à cadeira desconfortável da sala de aula... E minha mente, que
também foi tirada do conforto, incomodada permanece até nos nossos dias.
Sou
adepto mesmo é de samba. Um bom samba alivia as dores que de vez em quando
sinto. Desde criança, é verdade. Brincava de carrinho na sala de casa, talvez
até com bico na boca. As palavras eram “Não posso mais alimentar a esse amor
tão louco, que sufoco!...” e a voz era de Alcione. Fui crescendo. Com uns
doze anos, sentindo meu sangue correr mais apressado nas veias, deitava no chão
do recinto onde ficava uma vitrola e cuidadosamente punha um disco para rodar.
Era O Pequeno Burguês, de Martinho da Vila. Havia uma relíquia em minha
casa desse gênio e apenas dava valor ao que não podia ser ignorado: o talento
do músico. Acalmavam-me versos como “Num grande amor tem de tudo um
bocadinho... Tem ternura, tem carinho. Tem castigo e tem perdão.”, “Está
em você o que o amor gerou... Ele vai nascer e há de ser sem dor.” e muitos
outros mais. Da grandeza de Martinho e Alcione, o imortal Benito di Paula. Esse
é um ídolo que tenho por ter composto ainda mais a minha vida, minha
personalidade e minha percepção de mundo. Acredito ser Benito amado por todos
de minha geração. Cantamos seus sambas com gosto, como se nos reenergizassem
até hoje. Ontem mesmo uma pessoa amada cantou dele Retalhos de cetim
para mim a fim de me fazer levantar os pés enquanto trilho caminhos pedregosos.
Refletindo...
Viver só se for com música. É ela que dá colorido às imagens que nos chegam aos
olhos. A visão se turva sem ela. As grandes músicas me trazem Uma, os dois
sertanejos e outras duplas que me emocionam, trios, quartetos como o Em Cy, bandas,
orquestras, memórias, amores, perfumes e sonhos. Elas me trazem a mim, para que
eu preste atenção em mim mesmo quando estou conectado com algo bem próximo de
Deus.
Certas
canções são assim: adoro a melodia, que me transportam como que para outros
mundos, como se suas batidas fossem me levantando do chão e me fazendo flutuar.
Não posso
negar meu fascínio pelo “pop”, as músicas em inglês que, na maioria das vezes,
acompanho (em casa, sozinha, é claro) com estridentes “na-na-na-nas...” ou “ôôôôô...”.
O fato de não saber a letra ainda me cria um mundo inteiro de imaginações. Não
posso negar que há muitas músicas que simplesmente não procuro tradução, como
se tentasse preservar certa magia que poderia ser desfeita por uma letra pobre
ou tradução ruim. Enfim, acho que esse é meu lado adolescente.
Aí vêm as
músicas no estilo “rock”, que são mais algumas das favoritas. Seja nacional ou
internacional, ouço nas alturas sempre que posso e me remetem ao meu lado mais
louco e agitado. Meus músculos vibram, simplesmente. “Vamos comemorar... vamos
comemorar” que eu amo do Capital Inicial. Toda a vez que eu canto junto, é como
se a ponte realmente se desfizesse sob meus pés e eu lembro que tudo é
passageiro, que não importam muitas coisas, mas a vibração da vida... Ah, em
todo show a que vou, é aquela loucura! Scorpions, Guns, AC/DC, Legião, Titãs
etc etc etc.
Enya, Lorena
MacKennitt, Enigma, Vanessa Mae... levam-me a concentrar, escuto uma, duas,
mais vezes, como se visitasse minha própria inconsciência. Quem sabe, um dos
lados mais refinados meus.
Como deixar
de falar dos sertanejos? Várias e várias vezes (sempre que o tempo permite)
sento em minha varanda e deixo o som das violas e vozes antigas cantarolando a
vida da roça, ao som de berrantes. “De que me adianta viver na cidade se a
felicidade não me acompanhar?” e, de fato, não, não há luar como esse do
sertão! Sempre me emociono com letras melancólicas e belas histórias naqueles
sons vindos de longe, lá do meio do mato, quando a vida passava devagar... “Eu
tinha uma mula preta com sete palmos de altura”, sem vergonha nenhuma de dizer
que choro mesmo com certas – muitas – músicas. E me divirto, como é clássico
nos meus passeios de cavalgada “Com a marvada pinga que eu me atrapaio...”.
Certas
canções são assim, não envelhecem. Não saem da memória. Nos lembram pessoas,
cheiros, momentos, saudades. Nos divertem, nos emocionam, nos fazem sair da
realidade.
Ora, como
deixar de lembrar, algumas músicas internacionais dos anos 80, que eu escutava
num pequeno rádio de pilha, bem baixinho, antes de dormir, que ainda hoje tocam
na FM após às 11h da noite.
Às vezes
tenho também a sensação de ter nascido há dez mil anos atrás quando falo com
meus alunos que eu ouvia Raul Seixas num compact
disc de vinil...
Certas
canções são assim, se eternizam em nós, imprimindo memórias, sensações, gostos,
des-ilusões...
Achei que ao
escrever este texto, falaria de uma música em especial, mas, à medida que as
palavras surgiam, uma enxurrada de lembranças e emoções vinham junto. Com o
passar dos anos, coleções de músicas favoritas e estilos variados, pois,
parafraseando uma amiga minha, música é também estado de espírito. E sim, sem
dúvida, cantar, mergulhar numa melodia é uma forma de estar em sintonia com
Deus.
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