Memórias do Vale do Café - Memórias do Cativeiro

Olá, leitores!
Este mês quero falar sobre um assunto que gosto muito: a herança que recebemos do povo negro aqui na região.
Para quem não sabe, Valença faz parte do Vale do Café, que é uma região historicamente construída, onde encontram-se municípios que no século XIX colocou o Brasil como líder mundial na produção de café. Compreendendo as cidades de Vassouras, Valença, Rio das Flores, Piraí, Engenheiro Paulo de Frontin, Paty do Alferes, Paracambi, Miguel Pereira, Mendes, Barra do Piraí, Pinheiral, Barra Mansa, Paraíba do Sul, Volta Redonda e Resende, o Vale do Paraíba deixa de ser apenas um acidente geográfico e passa a reunir relações políticas sociais, culturais e econômicas, sendo assim, um território socialmente construído. 
Com a Revolução Industrial, os trabalhadores necessitavam cada vez mais de bebidas estimulantes e açúcar para aguentar do dia de trabalho.
Até o início do século XIX, a colônia francesa era o principal produtor de algodão, café e açúcar, porém, após a independência do Haiti, o plantio precisou migrar para outras regiões. 
Em 1830, o plantio de café já tomava conta de quase toda a bacia do Rio Paraíba do Sul. 
A mineração deixou um ótimo sistema de transporte feito por mulas utilizado para o escoamento das safras de café até o aparecimento das ferrovias na segunda metade do século XIX. Para suprir a necessidade de mão de obra nos cafezais, africanos eram trazidos e escravizados no Brasil. 
As famílias imigrantes passaram a acumular riquezas e foram ganhando poder na região.
Até o período colonial era importante ser rico. No período imperial, a fazenda deixa de ser apenas um lugar de trabalho e passa a representar o prestígio da família, passa a ser importante parecer rico.  
A rotina nas fazendas eram rigorosas. Era preciso administrar o trabalho e também a casa grande. O ambiente era hostil e violento, a fim de evitar furtos e fugas dos escravos. 

Com tudo isso, inúmeras foram as heranças que tivemos desse povo. Nossa região foi marcada pela ganância, pela violência, pela riqueza e pela destruição da natureza. A nós, descendentes, cabe olhar para o passado para tentar construir um futuro melhor. Precisamos recorrer a nossa memória para saber de onde viemos, quem somos e o que nos trouxe até aqui!



Fazenda Aliança (Barra do Piraí)

Fazenda Cachoeira Grande (Vassouras)

Fazenda Chacrinha (Valença)




Começaremos com o documentário "Memórias do Cativeiro"

O filme, que reúne depoimentos de descendentes de escravos do Espírito Santo e do Vale Paraíba fluminense mineiro e paulista, foi lançado no ano de 2005 com direção de Guilherme Fernandez e Isabel Castro e com roteiro baseado no livro "Memórias do Cativeiro: família, trabalho e cidadania no pós-abolição" de Ana Lugão Rios e Hebe Mattos.  

O documentário divide-se em 5 capítulos: A África no Brasil, O Tempo do Cativeiro, Laços de Família, Visões da Liberdade e O Diálogo dos Tempos.

As histórias contadas pelos descendentes de escravos, guardam a memória da dor do tráfico, das famílias que eram separadas, das torturas que eram aceitas pela sociedade e amparadas pela lei concedia aos senhores o poder de ter o escravo como sua propriedade e o direito de usá-los como bem queriam. A humilhação é retratada nas cartas deixadas como memória de um passado que ainda vive entre nossa sociedade. O trauma dos escravos é demonstrado nas conversas que eles evitavam ter e assim, repassar seu legado de luta e dor. 

Através de “Memórias do Cativeiro, conhecemos as histórias desde escravos trazidos da África, passando pelos nascidos livres, amparados pela Lei do Ventre Livre e pelos que viram o dia 13 de maio de 1888, nascer com o gosto da liberdade, até os que usufruíram dos direitos trabalhistas que vieram com Getúlio Vargas. 

A narrativa chocante do império dos brancos sobre os negros e seu desmoronamento. Uma linha do tempo que não se encerrou, porque ainda carregamos os vestígios das atrocidades que nossos ancestrais cometeram e que a sociedade carrega as cicatrizes até hoje.



Fontes: 
Documentário Memórias do Cativeiro
Vale do Paraíba Fluminense e a dinâmica imperial (Mariana Muaze)
Fotos de Adriano Novaes



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