Não sei por que escrevo...

Hoje é dia de segunda poética e que segunda-feira mais preguiçosa depois de um fim de semana literariamente agitado! Após comemorações do Dia do Escritor, um ano do Clube Literário e muita agitação, compartilho com vocês, leitores e amigos, um poema que fala exatamente desse misterioso e fantástico ato que é ESCREVER.
Muitas vezes as palavras vêm, brotando lá do mundo da alma, parecendo a gente e nem sempre parecendo ser a gente que escreveu...
Muitas vezes também elas não vêm; ficam lá paradas, imersas, totalmente nulas, congeladas, como se insistissem em ficar nos encarando e dizendo "está pronta para o próximo desafio?" ou aquele verso do Drummond "Trouxeste a chave?".
Ah, palavras, eu não sei por que escrevo, mas sei que há uma coisa viva, enraizada, profunda que precisa vir à tona, que precisa ser desabafada, traduzida. Sei também que as águas da imaginação precisam ser liberadas ou simplesmente nos sufocamos.




Não sei por que escrevo

Não sei por que escrevo.
Parece que tudo já foi dito.
O ser humano é sempre mesmo.
O mesmo amor, a mesma culpa, o mesmo sofredor,
Os mesmos sonhos, as mesmas paixões, e as mesmas traições.

Não entendo por que escrevo.
Talvez seja uma forma de buscar entender
A minha própria vida, os meus próprios sentimentos,
Dizer repetidas vezes a mesma dor, o mesmo amor, o mesmo sonho.

Até que eu possa compreender não a alma humana
Mas a minha própria alma.
Quem sabe, desaguar por sobre o papel
E curar as minhas feridas, e renovar as esperanças perdidas.

Não sei por que escrevo.
É uma força maior que eu
É como se existissem muitos outros eus dentro de mim
E eles quisessem, precisassem falar.

Talvez o mundo não tenha jeito
Talvez um dia ele vai mesmo acabar
E toda essa natureza linda dissipar
E todas as pessoas vão desaparecer

Mas eu não posso deixar me calar
É muito, muito mais forte que eu
Não sou eu
Dominam as minhas mãos, os meus pensamentos

Sinto que sou tudo ao mesmo tempo
As pessoas, as crianças, os homens, as mulheres
Sou as aves, os cães, os cavalos, leões e ovelhas
Sou uma fumaça que se esvai pelo ar

Sou toda alma e sensações, quando escrevo
Pareço sair do meu corpo
Como as ondas de uma música que se propagam até sumir
Uma luz que se apaga, minha própria escuridão

Creio, sou incrédula, odeio e amo
Perdoo e condeno, tudo ao mesmo tempo
Mas como pode haver alguém assim
Que não se decide entre o bem e o mal

Entre carne e espírito, entre homem e animal
Entre o paraíso e o inferno
Tudo cabe em mim e por não caber
Eu preciso, eu necessito de escrever

Elayne Amorim

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