Sentimentos Literários - O Dia do Curinga (Jostein Gaarder)
Quando
fui desafiada a ler "O dia do Curinga" fiquei bastante feliz pois já
vinha querendo lê-lo desde que tomei conhecimento de sua existência através da
Pit Larah. A Pit é fã do autor e sempre menciona o livro. Como confio no gosto literário
dela, tomei-me de curiosidade por este, que é um de seus livros preferidos. O
Desafio foi ideal para sanar essa vontade.
Antes
de qualquer coisa, é necessário frisar que iniciei a leitura meio receosa.
Jostein Gaarder aborda filosofia em seus livros. E mais, filosofia teen. O tema
é, no mínimo, ousado e desafiador. Como trazer a filosofia para a habitual
linguagem dos jovens, sem torná-la superficial? Não sei. Mas Jostein sabe, e
bem!
Com
muita propriedade e destreza, o autor caminha por questões absolutamente
filosóficas, complexas e questionadoras como devem ser, sem em momento algum
tornar a leitura cansativa ou desmerecida.
Neste
livro, Gaarder conta a história de Hans-Thomas, um menino de 12 anos, que desde
os 4 não vê a mãe, tampouco tem notícias dela. Esta, com o intuito de "se
encontrar" (Quem nunca?), caiu no mundo e nunca mais voltou.
Ao
descobrirem que a mulher está na Grécia, Hans e seu pai pegam a estrada, de
carro, partindo da Noruega, para trazê-la de volta para casa.
O
fato de tratar-se de um livro filosófico, e a mãe do menino ter ido "se
encontrar" justamente na Grécia, me deu uma certa preguiça. Daí lembrei
que esse livro seria ideal para um jovem tendo seus primeiros contatos com
filosofia, e me permiti. E que sábia decisão. A partir daí, fui envolvida em
uma leitura deliciosa e cativante!
O
pai de Hans é um homem que não passa um dia sem umas bebidas e, ao mesmo tempo,
é dotado de muita sabedoria empírica que nos torna evidente a cada página,
através de inúmeros diálogos estabelecidos entre os dois, durante a viagem.
O
“Dia do Curinga” é dividido em 52 capítulos, cada um representado por um número
e um naipe, assim como um baralho, e esse “detalhe” é o tempero do livro.
O
pai de Hans é um obcecado colecionador de Curingas. Mantendo o hábito de
comprar baralhos, retirar esta carta para si, e descartar o restante.
“Um curinga é um pequeno bobo da corte;
uma figura diferente de todas as outras. Não é nem de paus, nem de ouros, nem
de copas e nem de espadas. Não é oito, nem nove, nem rei e nem valete. É um
caso à parte; uma carta sem relação com as outras. Ele está no mesmo monte das
outras cartas, mas aquele não é o seu lugar. Por isso pode ser separado do
monte sem que ninguém sinta falta dele”.
Hans acredita que o pai sinta-se como um curinga e,
daí, venha sua coleção.
“(...) alguém que sempre acreditou ver coisas
estranhas, que os olhos dos outros não viam.”
Logo
no início da viagem, Hans ganha dois pães de um padeiro e, ao comer um deles,
nota algo estranho por dentro, tratando-se de um minilivro. O curioso é que o
menino havia ganhado também uma lupa de uma outra pessoa no caminho e os dois
objetos se completam instantaneamente.
O
garoto passa a cultivar o hábito de ler o pequeno livro quando está sozinho,
antes de dormir, ou no banco traseiro durante longos percursos.
Passamos,
então, a contar com duas narrativas: a presente no livro lido, e a já conhecida
por nós.
As
duas narrativas se ligam em pontos específicos ao longo da leitura e isso dá um
sabor muito especial à história.
Por
tratar-se de filosofia, seria muita prepotência minha esmiuçar o pano de fundo
da obra. É necessário ler e permitir-se entrar nessa viagem junto de nossos
protagonistas para que, assim, seja possível entender e perceber, com seus
próprios sentidos, cada reflexão que o livro nos sugere.
De
cada pensamento, cada reflexão, o que mais me tocou foi a forma como o autor
brinca com algo tão complexo: a vida!
“A
vida é uma loteria gigante, da qual só se veem os ganhadores!”
“Para
mim, o mundo era um sonho muito estranho, e eu vivia em busca de uma explicação
para esse sonho”
Para
mim também, Jostein!
Leiam “O dia do Curinga”. Recomendo com força!
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