Lembranças do Quinto Andar

*Leia ouvindo "Pais e Filhos do Legião Urbana" quando aparecer a # *

Cheguei em casa tirei o meu "all star" de cano alto e coloquei do lado da porta e fui entrando em casa, coloquei meu chaveiro de "ursinho marrom" com as minhas chaves no pires que ficava na mesa de madeira velha átras do sofá bege e joguei minha bolsa já bastante usada e repleta de bottons no mesmo. Liguei o som da sala e sintonizei em uma rádio qualquer onde tocava a música "Pais e Filhos" do Legião e comecei a prestar atenção na letra enquanto ia cantando junto.
Me lembrei de quando minha irmã se suicidou, parte da música se encaixava perfeitamente de acordo com o acontecimento.
 # Cheguei de uma viagem de uma semana à Vitória no Espírito Santo, fui direto para o 5° andar do prédio onde morávamos em São Paulo e a chuva caía insistentemente forte lá fora. O prédio estava movimentado como de costume mas algo iria acontecer, eu podia sentir.  Abri a porta do apartamento onde morava com minha família e estavam todos meios "alterados" digamos assim.

"Mas Letícia pelo amor de Santo Deus, entra logo, para com essa loucura, sua irmã não foi embora. Ela chega hoje"

Ela era aquela típica adolescente rebelde e só se dava bem comigo, eu achava estranho mas de certa forma a entendia.

"Eu já disse que não. Chega vocês".

"Letíciaaaa".

Cheguei tarde demais.

"Ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender"

Minha mãe dias depois se encontrava em depressão e segundo os médico a tendência era só piorar. Eu na altura dos meus 17 anos em tornei a mulher, o homem e a alma da casa. Meu pai foi embora. Eu apenas cantava para minha mãe.

"Dorme agora, é só o vento lá fora"

Um ano depois do ocorrido ela se foi também, me deixando sozinha, sem ter o que fazer me mudei para Santa Catarina. E o que me vinha na cabeça enquanto chorava com a cabeça encostada na janela do ônibus era apenas:

"Quero colo, vou fugir de casa, posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo, tive um pesadelo, só vou voltar depois das três"


E quando me mudei definitivamente e resolvi "deixar tudo pra trás" fui até uma igreja e fiz a seguinte promessa:

"Meu filho vai ter nome de santo,

quero o nome mais bonito"


Não que tudo tenha ficado de fato bem ou que eu estivesse curada, nada disso, a dor estava ali, na cicatriz no meu pescoço de quando meu pai tentou me matar antes de sumir, me sinto culpa da até hoje mas nada que quatro horas de terapia por semana não me ajude. Aprendi que:


"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã,

 porque se você parar pra pensar na verdade não há".


E isso tudo são apenas as minhas lembranças do quinto andar...


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