Despeço-me desses raios de sol
Tem
dias que fico sem palavras para expressar o quão a natureza é bela. Sinto-me
privilegiada de poder olhar com estes olhos ainda curiosos pelo mistério das
coisas. A lua alta e cheia se exibe no céu azul-marinho do entardecer do outono
que começa. E silhuetas de árvores trazem um tom sombrio que dá vontade de
mergulhar noite adentro e desbravar os segredos dos sons e das dimensões
escondidos por trás das sombras. A luz da lua é dourada hoje e ela inaugura
mais uma estação. Despeço-me desses raios de sol dando adeus a mais um verão.
Pela noite, ainda quente, sopra um vento frio esparramando poeira das estrelas
que ainda viajam anos-luz pelo espaço mesmo depois de tantos milênios de
explosão. Sinto dentro de mim folhas caindo. Uma parte de mim uiva enquanto a
outra, humana, tenta se desapegar das folhas já velhas e ressequidas. É tempo
de deixar ir. Sinto-me ao meio de uma travessia, que poderia ser o início,
também poderia ser o fim, e pelo que trago quero apenas sentir gratidão. Abraçar
uma criança ainda é se abrir para o mundo e hoje consegui dar um passo à
frente, tive minha inocência tocada por um olhar que me sorria
descompromissadamente. Eu queria que as pessoas não perdessem isso. Eu não
queria perder isso. E tudo o que sei é que aquele momento valeu a pena demais.
Estive tão distante da minha poesia e é frio demais sem ela caminhar. Eu sinto
demais e, apesar do risco de se machucar, não há vida onde não há sentir. Então
esta noite dentro de mim que me traz um eterno amanhecer de emoções novas e
antigas. As árvores só crescem conforme deixam suas folhas velhas caírem e é um
espetáculo dolorosamente lindo.
Elayne Amorim
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